Pare um pouco e pense nos móveis e objetos da sua casa. Você se lembra por que os comprou? Você tem certeza de que eles ainda atendem às suas necessidades? Você precisa de todas as coisas que tem? Perguntas como essas são fundamentais em especial quando se trata do nosso lar. Sendo assim, como escolher os móveis e a decoração de quarto infantil? Será que meu filho precisa mesmo desse brinquedo? Como escolher o móvel e brinquedo para cada idade? E para muitos a parte mais desafiadora: como escolher os brinquedos e móveis que precisam ser doados e não fazem mais parte da nossa rotina?
De acordo com a prática essencialista, ao retirarmos do nosso cotidiano o excesso, dando prioridade ao que realmente é importante de acordo com nossos valores, abrimos espaço e liberamos tempo para nos aprimorarmos naquilo com que nos regozijamos, diminuindo o estresse causado pelo excesso de opções e vivendo uma vida mais prazerosa. Se quiser conhecer mais sobre o essencialismo, leia nosso artigo completo sobre este tema.

E como isso se aplica ao quarto das crianças, brinquedotecas ou outros espaços de brincar? Como fazer escolhas assertivas ao comprar móveis, brinquedos e organizá-los, pensando em construir um ambiente acolhedor e pronto para a diversão, e que ao mesmo tempo não hiperestimule ou acabe estressando os pequenos. Nossa estrela-arquiteta Renata Dutra, mãe de 2, especialista em arquitetura infantil e idealizadora da Milkshake Design Infantil, explica como avaliar a organização dos quartos e brinquedotecas das crianças, estabelecendo critérios importantes na escolha e organização dos itens, a partir da ótica essencialista.
O que é um espaço de brincar essencialista?
Um espaço de brincar essencialista é aquele que prioriza os pontos que são primordiais para sua família. Ao pensar os espaços de brincar reforçando o que é essencial, você ganha não apenas espaço físico (diminuindo a quantidade de móveis e objetos pouco ou não utilizados), mas sobretudo tempo, liberdade e energia para focar no desenvolvimento do seu filho.
O primeiro passo para pensar nos quartos e espaços de brincar a partir da perspectiva essencialista é avaliar se nossas escolhas são motivadas por fatores culturais ─ que muitas vezes se manifestam de maneira inconsciente e automática ─, e começar a observar atentamente os motivos por trás das nossas escolhas. Talvez algumas delas sejam apenas repetição daquilo que você aprendeu ou do que esperam de você.
Atenção e disciplina nas escolhas de decoração de quarto infantil
Esse é um exercício que exige atenção e disciplina porque vivemos num mundo extremamente consumista e cheio de padrões. E quando não nos mantemos atentas a esse ponto, acabamos criando conexões mentais que talvez nem façam sentido se encaradas de uma maneira racional. Nossas ações e escolhas no que se refere ao que trazemos para dentro da nossa casa e da nossa rotina precisam estar amparadas pela consciência e intenção direcionada àquilo que realmente almejamos para o presente e futuro de nossas vidas.
Um exemplo dessas conexões mentais é um pensamento muito comum do tipo: “Ter tal móvel na brinquedoteca fará do meu filho uma criança mais… ágil, ou inteligente, ou independente, ou o que for.” É nessa hora que devemos prestar muita atenção e observar: de onde vem esta conexão mental? Ela é resultado das minhas memórias de infância? Será que não é influência das propagandas que recebi das redes sociais nesta semana? É uma conexão fundamentada em pesquisas ou confirmada por profissionais da área? Para ter este móvel, terei que abrir mão do quê?

Como a disposição dos móveis e brinquedos interfere na rotina da criança?
As mudanças que fazemos em nosso lar têm impacto em quem somos para nós mesmas, quem somos para os nossos filhos e quem somos para o mundo. A disposição dos móveis interfere em toda nossa logística em casa. Sendo assim, a decoração de uma casa deve servir às pessoas que moram nela e não o oposto. Deve fazer o bem, agradar as pessoas que moram ali e não existir para passar uma imagem especifica para quem está de fora.
Como planejar a decoração do quarto dos meus filhos?
Para estabelecer metas e objetivos em relação a um ambiente, uma boa pergunta é: qual problema eu quero ter? Com a plena consciência de que a escolha e disposição dos móveis afetará de maneira significativa a rotina e o bem-estar das pessoas que vivem naquele ambiente, é possível fazer tais escolhas a partir das reais necessidades do momento que estamos vivendo.
Uma brinquedoteca ou quarto que sejam um cenário lúdico ajudarão o seu filho a trabalhar a criatividade, há pessoas por exemplo que preferem construir apenas um cenário para as aventuras, outras preferem brinquedos específicos para determinadas habilidades.
Muitas vezes, mães de meninas, por exemplo, direcionam para os espaços de brincar delas brinquedos que estejam ligados à beleza ou cozinha, sem considerar se tais brinquedos refletem ou não os interesses dessas meninas. Quando agimos assim, estamos estabelecendo conexões mentais automáticas que reproduzem um padrão construído culturalmente, e deixamos de observar pelo que realmente nossas filhas se interessam. Além de não atendermos às necessidades delas no momento, também impomos a elas um padrão social.

Como limpar o quarto das crianças?
O que é o destralhe?
Além de refletir o que irá compor o espaço de brincar da criança, também é importante, de tempos em tempos, fazer o exercício de destralhe dos brinquedos existentes.
Analise cada móvel e brinquedo e faça a avaliação da real necessidade de ele estar ali. Algumas perguntas podem nos ajudar neste momento:
- O meu filho brinca com este brinquedo?
- Qual foi a última vez que meu filho brincou com este brinquedo?
- Este brinquedo convida meu filho a soltar a imaginação?

As mudanças que fazemos em nosso lar têm impacto em quem somos para nós mesmas, quem somos para os nossos filhos e quem somos para o mundo.
Renata Dutra

Como saber se está na hora de doar um brinquedo?
Neste momento, o apego a um brinquedo que nos acompanhou em tantos momentos felizes pode atrapalhar o processo de destralhe, por isso separamos algumas sugestões que podem ajudar:
- brinquedos quebrados;
- brinquedos para uma idade específica que já passou;
- brinquedos conceituais como personagens de filmes, pois eles celebram a criatividade de quem os criou e não a da criança, além de incentivar o consumismo;
- brinquedos hiper estimulantes que acendem muitas luzes, tocam música, fazem muito barulho e trazem ondas desnecessárias de adrenalina, que a longo prazo provocam aumento do cortisol e desenvolvem estresse;
- brinquedos irritantes para a família;
- brinquedos que você comprou por pressão, aqueles que “todos os amigos têm”;
- brinquedos que inspiram violência e ofensas;
- brinquedos que se multiplicam e que estimulam a criança a fazer coleções.
Caso a criança insista em não querer encaminhar o brinquedo, aproveite o momento para ter uma conversa sobre a importância de doar e compartilhar o que temos com os amigos, diga que o brinquedo vai divertir outras crianças e que ele abrirá espaço para novas possibilidades. Esse costuma ser um momento importante de vínculo e reflexão.

Lembre-se de que o mais importante para essa prática é entender de onde vem a sua vontade de comprar brinquedos para os seus filhos. Precisamos lembrar de que brinquedos não preenchem falhas dos pais, não preenchem buracos e não substituem o tempo e a brincadeira junto. As crianças não precisam de muitos brinquedos. Elas precisam é de tempo e oportunidades para criar. É muito importante sentir e aprender a lidar com o tédio, para desenvolver a habilidade de explorar e imaginar.