“A chegada na minha vida começou em 2011 quando eu meu companheiro decidimos que queríamos ser pais. Tivemos duas gestações, em 2013 e 2014, mas infelizmente ambas resultaram em perdas gestacionais. Foi uma fase muito difícil e de muitas reflexões. E decidimos seguir com o desejo da parentalidade, mas agora por outra via: a adoção. Iniciamos todos os trâmites legais, demos entrada no processo em 2016 e dois anos depois, chegou a nossa filha Maria Vitória, aos 9 meses de idade.
Costumo dizer que minha maternidade não aconteceu apenas quando a minha filha chegou. Ela começou lá atrás, no processo de preparação para ser mãe. No meu caso, ele foi muito cheio de altos e baixos, com dias muito intensos e dolorosos. Mas quando a Maria chegou em nossas vidas, entendi que precisava ter passado por tudo aquilo, como crescimento emocional e psicológico.

Recalculando a rota com a maternidade
Eu estava num momento profissional de ascensão quando minha filha chegou. Trabalhava numa escola de negócios, com a carreira em expansão, querendo fazer mestrado e achei que daria conta de maternar em meio a tudo isso. Achava que a maternidade se “encaixaria” nessa minha vida, mas vi que precisaria encaixar uma nova vida com a maternidade. Na verdade, eu precisaria mesmo criar uma nova vida com a maternidade.
Sou psicóloga num espaço de humanização para a maternidade em São Paulo e fazer a transição pessoal e profissional nesse lugar foi muito maravilhoso para o meu puerpério como mãe, com tantas transformações em andamento. Vi que só daria conta de maternar, de fato, se pudesse ter mais tempo disponível para Maria. E foi aí que tomei a decisão de atuar de forma autônoma na busca de dar conta de administrar o tempo e as novas demandas da maternidade. Essa foi a minha primeira grande transformação. O tempo e as prioridades foram redefinidos e a cada dia ficava mais claro que eu já não podia fazer o que bem entendesse, na hora que quisesse. O tempo mais importante da minha vida a partir dali passou a ser da minha filha, mas isso também é um processo e tem dias mais desafiadores que outros para mim que sou muito voltada para a carreira.
Entender as demandas que vêm junto com um filho é um grande aprendizado. E bastante intenso também. Tenho aprendido muito com isso e me tornado uma pessoa melhor com a maternidade, mas com o desafio de praticar o autocuidado, de não deixar de olhar para a minha saúde e, na medida do possível, equilibrar os muitos pratinhos. A vida conjugal também mudou com a parentalidade e foi preciso fazer adaptações para acolher nossa filha e continuarmos nos relacionando da melhor maneira possível.
Ao deixar a escola de negócios, mergulhei de cabeça no atendimento clínico às famílias e nos cursos, sempre auxiliando nas questões da parentalidade, algo que eu já fazia, mas que se intensificou e se tornou muito potente, prazeroso e produtivo. Teoria e prática se misturaram e enriqueceram ainda mais meu repertório profissional. Nessa mesma época, me tornei co-criadora de um projeto chamado Doulas de Adoção, que é bastante atuante com famílias que buscam essa via de parentalidade e com profissionais que orientam as famílias.

Tudo no seu tempo
Essa mudança de rumos e de prioridades só agregou ainda mais valor às nossas vidas e isso só foi possível após a maternidade. Se hoje eu tivesse a oportunidade de dar um conselho ou dizer algo para a minha versão antes de ser mãe, eu diria que as transformações fazem parte do processo. Quando estamos desejando um filho e vivemos perdas gestacionais, existe muita ansiedade e incertezas sobre quando esse filho vai vir. Hoje vejo que tudo o que vivenciei é a manifestação da vida acontecendo. Tudo faz parte da vida e não é possível que seja diferente. Existe um tempo para todas as coisas e tanto as perdas quanto as conquistas fizeram parte do meu processo de me tornar mãe. Porque ao contrário do que dizem, não se torna mãe com a chegada de um filho. Essa é uma jornada, é um processo de se tornar mãe.

E para a minha versão do futuro, vejo uma Mayra que continua estudando a temática da parentalidade, na carreira acadêmica e clínica com o projeto Doulas de Adoção chegando a mais famílias e profissionais. E também me vejo como uma mãe que faz questão de apresentar o mundo para minha filha, que tem vontade de ampliar o mundo para ela. Quero que ela saiba que existem pessoas diferentes, culturas diferentes e formas diferentes de ver a vida e conhecer o mundo, sempre valorizando a diversidade das pessoas. Assim como as crianças não chegam da mesma forma nas famílias, as pessoas também são universos diferentes.
No parto humanizado falamos que é preciso mudar a forma de nascer. E eu vejo que é preciso mudar a forma de viver. Costumo dizer que a minha missão é mudar o mundo para a minha filha e tantos filhos por adoção. Que a gente possa mudar o mundo contra os preconceitos e tabus com a adoção. Que as famílias se sintam potentes, inteiras e valorizadas”.
Mayra Aiello Corrêa de Oliveira,
Mãe de dois bebês breves e da Maria Vitória, mestranda em Psicologia e coidealizadora do Doulas de Adoção Brasil.