Quer saber? Prefiro essa versão!
“Eu sempre quis ser mãe, mas pouco antes de querer engravidar o sentimento ficou ainda mais forte. Caminhando para a casa dos 35 anos, me sentia preparada para viver essa experiência. A vida estava estável e tudo conspirava para que aquele fosse o momento de ser mãe. Parei de tomar o anticoncepcional e, depois de 6 meses, aconteceu! Eu estava grávida e, confesso, demorei para acreditar no que mostrava aquele teste de gravidez.
Vou ser sincera: não achei a gravidez o máximo. Me sentia abençoada, obviamente, por ter a oportunidade de gerar uma vida, mas acordava dezenas de vezes durante a noite desde as primeiras semanas de gestação. Náuseas o tempo todo, gosto de ferro na boca, paladar completamente alterado. Não conseguia comer os alimentos que mais amo e quase não sentia fome. Desejos? Só mesmo de ver a carinha da minha filha. Meu alimento preferido era salada de batata cozida temperada com salsinha, sal e azeite. A sobremesa? Laranja!

Junto com o nascimento da minha filha, nasceu uma Karina mais forte, capaz de resolver qualquer desafio.
Karina Godoy
Faço questão de trazer para cá essa experiência porque a tendência é florearmos demais essa fase – aliás, tudo o que envolve a maternidade, não é mesmo? E para mim esse momento não foi de plenitude ou lindezas. Psicologicamente, brinco que mesmo com o barrigão, minha ficha só caiu quando a Maitê nasceu. Por mais que você saiba que existe um bebê e o amor que vai crescendo junto, nada se compara ao nascimento. Quando minha pequena estrelinha nasceu eu nasci de novo. Por muitas vezes procuro a Karina que existia antes de ser mãe e eu nem lembro mais como ela era. E quer saber? Prefiro essa versão.
Ah, o autocuidado: toda mãe precisa dele
Eu achava que a maternidade seria mais fácil, mas eu não tive rede de apoio, então, aprendi muito, muito mesmo, desde as primeiras semanas que me tornei mãe. Mas não lembro desta fase inicial com pesar, eu só penso: “como foi possível?!” E foi! Aqui estamos. Junto com o nascimento da minha filha, nasceu uma Karina mais forte, capaz de resolver qualquer desafio. Eu fiquei mais ativa do que eu já era antes, porque na maternidade a gente não tem muita escolha: ou você faz…ou você faz, né?! Me acho mais “cara de pau” hoje também. Então, eu que sempre fui determinada, me tornei uma “determinada incansável”, porque qualquer conquista não é só por mim, é por ela também.
Outro ponto que hoje eu enxergo melhor é sobre cuidar de mim. Valorizo muito isso, mais do que antes de ser mãe. Minha filha tem quatro anos e quando ela completou dois, eu vi o quanto eu tinha deixado de fazer coisas que amava, por não encaixar tempo para isso no dia a dia. E decidi reverter essa história. E assumir esse protagonismo do cuidado comigo foi importante até mesmo para entender que hoje não cabe um segundo filho em minha rotina. O desejo até já existiu e talvez volte, mas entender que eu preciso de cuidado e de cuidar bem da minha filha e família foi fundamental para esse entendimento. Então, hoje, as minhas escolhas são mais por mim do que pelo mundo! Eu sei que eu não teria tanto tempo para mim e, psicologicamente, não aguentaria o tranco de forma saudável por conta da minha rotina de trabalho.

Tempo para o que importa ao ser mãe
Aliás, por falar em tempo, reavaliei muita coisa depois da maternidade, especialmente em relação ao tempo que passo no trabalho versus tempo junto com a minha filha. Aquelas cobranças de mãe, sabe? A gente começar a enxergar o mundo diferente. Os valores mudam e tem coisa que antes de ser mãe era mega importante e agora não faz o menor sentido. No meu caso, a Maitê me tornou até escritora! Lancei um livro recentemente e que, num primeiro momento, seria um diário para ela, mas resolvi dividir com o mundo.
Posso afirmar que vivo muito intensamente esse maternar, sempre consciente de que ele é diferente para cada uma de nós, mas independentemente da sua rotina, das suas escolhas, os desafios são sempre muito parecidos. A maternidade me dá puxões de orelha o tempo todo. Tem que ter muita paciência comigo, mas estou aprendendo. E um dos maiores aprendizados é não julgar a mãe ao lado. Ser menos “julguiany”, como gosto de brincar nas minhas redes sociais. Antes de ser mãe, eu tinha mania de julgar todas as mães! Hoje me sinto mais empática. No passado, se encontrava uma mãe com bebê pequeno no shopping eu achava um absurdo. Depois eu entendi que, assim como eu, ela só queria respirar e ver gente.

Um recado para a Karina do passado
Aliás, se a Karina mãe pudesse dar um recado para a Karina do passado, diria para ela sofrer menos com pequenas situações e escolher quais batalhas vale a pena encarar. Ah, e para o meu ascendente em virgem eu diria: começa a respirar agora, porque a casa vai ficar uma bagunça e você vai ter que fazer vista grossa, afinal, será impossível dar conta de tudo!
E ao olhar para o futuro, daqui 10, 20 anos, eu espero estar feliz com as minhas escolhas profissionais, com mais tempo para minha filha e, por que não, uma cinquentona sarada? Faço 40 em julho, e o exercício físico e mental viraram objetivo de vida – de novo o autocuidado. Como mãe, espero estar mais madura, menos estressada com pequenas coisas, e que minha filha me enxergue como uma amiga e companheira para todas as horas. Será que é pedir muito? Risos.”
Karina Godoy
Jornalista, escritora, podcaster e mãe da Maitê. Não necessariamente nessa ordem.