Gritos, choro e até pontapés e a famosa “birra” de se jogar no chão. A primeira coisa que muitos adultos pensam ao se deparar com crianças em situações como estas é que estão querendo chamar a atenção, que são “malcriados” e por aí vai. No entanto, esse tipo de comportamento é um pedido de ajuda por parte da criança, que está em processo de desenvolvimento de suas capacidades socioemocionais. E entender a questão sob essa ótica é primordial para conseguir ajudá-la a se equilibrar.
Mas por onde começar, não é mesmo? “Comece dizendo para a criança que você está vendo que ela não está muito bem e que você está ali para ajudá-la. Mas não force que ela conte tudo o que está sentindo. Assim como nós, adultos, muitas vezes não queremos papo com ninguém, as crianças têm o direito de vivenciarem esse momento. O que ela precisa saber é que pode estar disponível para o adulto ajudá-la”, diz Gabriela Brotero.

A importância da parceria entre pais/responsáveis e os filhos
Sabemos que para lidar bem com as explosões emocionais das crianças, antes precisamos estar autorregulados. No entanto, nem sempre estamos equilibrados. “Por isso, não tenha medo de, diante de fortes emoções do seu filho, dizer a ele que você não está bem para ajudá-lo naquele momento e que também vai se acalmar para conseguir conversar com ele. Dessa forma, a criança percebe que os adultos também têm dias difíceis. Agora, se mesmo estando mal para lidar com a situação o adulto quer passar uma imagem que está tudo sob controle, mostrando-se bem, isso pode fazer com que ela deseje ser assim também, sofrendo quando não conseguir”, explica a especialista. Todos temos dias desafiadores, de estresse, sobrecarga e tensão. Se você não estiver autorregulado, fale sobre isso.
Por que é tão importante trabalhar as emoções e os sentimentos?
O primeiro ponto é porque ajuda a criança a saber o que ela sente e a nomear o que sente. E assim, ela consegue avisar o adulto e pedir ajuda em momentos difíceis. Nomear o que sente, aliás, sejam as emoções mais “básicas”, como tristeza e alegria, é importante também para o adulto, que sabendo o que causa alegria ou tristeza na sua criança poderá criar uma relação ainda mais saudável com ela.
Outro ponto positivo é que ajuda as crianças na resolução dos problemas. Não é toda hora que ela vai ter um adulto a quem recorrer, e saber resolver os problemas sozinhos ou com a ajuda dos amigos é ter também o autoconhecimento das emoções e sentimentos. “Na sala de aula, quando um aluno meu vem me pedir ajuda, eu sempre oriento que ele pergunte para três amigos antes. Isso o ajuda a ouvir uma resposta que, talvez, como professora eu não tenha. Pode não ser a resposta mais completa, mas nem sempre precisamos de uma resposta completa para crescer. Muitas vezes o amadurecimento vem quando a criança está num estado vulnerável, onde ela precisa crescer sozinha e procurar as ferramentas e estratégias que irão ajudá-la”, ensina.
Agora que entendemos a importância de trabalhar as questões socioemocionais das crianças, vamos entender como lidar com algumas emoções desafiadoras:

Como lidar com o MEDO
Os sentimentos que cada ser humano tem diante das emoções são individuais. E vai depender muito do que aconteceu anteriormente na vida dele e das experiências que ele teve, assim como a cognição naquele momento e quais serão as reações sociais e fisiológicas àquele acontecimento. Por exemplo: o medo é atribuído a um sentimento de incerteza, do vazio. “De acordo com a Psicologia Cognitiva Comportamental, o medo é o que nos priva da outra reação que pode-se ter naquele acontecimento. Se estou com medo de entrar na sala de aula porque é um local desconhecido, estou vivendo uma incerteza. Esse medo ajuda a me posicionar num ambiente novo e evita que eu entre numa situação desconhecida. Precisamos ajudar a criança a entender que o medo é uma emoção que está ali para nos ajudar, pois ajuda a entender o que somos, o que gostamos ou não. Para isso, devemos acolher o medo, dizer que ele é verdadeiro, respeitar e ajudar a entender se é o caso de um medo a ser superado ou não”, diz Gabriela Brotero.
Como lidar com a FRUSTRAÇÃO
Crianças, jovens e adultos precisam entender que as frustrações derivam de expectativas não atendidas. Mas não devemos deixar de ter expectativas, de desejar algo por medo de uma nova frustração. “O que precisamos é aprender a lidar com ela, que traz diversos tipos de sentimentos para diferentes pessoas. Não é o acontecimento que traz a frustração, mas sim a interpretação do acontecimento. Então vai depender também de experiências anteriores, convivência, no ambiente em que a pessoa está inserida. Tudo isso vai afetar e moldar a maneira como ela demonstra a frustração”, diz.
O psicólogo estadunidense Burrhus Frederic Skinner critica muito a punição quando alguém se frustra, especialmente porque ele acredita que o autocontrole e amadurecimento do ser humano é também o que contribui para fazer com que essa frustração não seja um desequilíbrio no organismo. “No século atual, as crianças se frustram muito mais rapidamente porque elas estão expostas a muito mais informações do que uma criança de 1970, por exemplo. E isso faz com que a tolerância dela seja menor, como adultos precisamos ajudá-la a entender que nem tudo é como ela quer, nem tudo vai acontecer na hora que ela quer. Isso traz virtudes como a paciência, importante para o amadurecimento”, explica Gabriela.

Como lidar com a RAIVA
A raiva está muito ligada ao amadurecimento. No livro infantil “A RAIVA”, a autora mostra como ela cresce no ser humano, podendo explodir. Em contrapartida, o bom senso vem e cura a raiva. Esse bom senso, no entanto, está ligado às experiências do ser humano e onde ele está inserido, até porque o que é bom senso para um pode não ser para o outro. Mas é sempre importante lembrar que o que a raiva traz como ação e reação tem que manter atento que precisamos de segurança, respeito. Quando ela toma conta de tudo é como se ficasse tudo preto diante de nossos olhos. Só depois que ela passa, voltamos e percebemos que tivemos uma reação muito grande, que extrapolamos.” Converse com sua criança e diga que está tudo bem sentir raiva. O perigo está quando ela nos domina, ficando tudo escurecido, sem visão. Diga a ela que ela pode contar com você antes de deixar que a raiva a domine por completo.
Veja abaixo uma seleção de livros que ajudam a lidar com as emoções
Para ler juntos:
O livro dos sentimentos, de Todd Par
O Monstro das Cores, de Anna Llenas
A Raiva, de José Carlos Lollo e Blandina Franco
Anita and the Dragons, Hannah Carmona
The Dot, Peter Reynolds